O desporto na fase de adulto jovem e meia idade
Já não é desconhecido os enormes benefícios proporcionados pelo desporto em qualquer faixa etária do ser humano, no campo físico e também psicológico e comportamental, neste post iremos explorar o efeito da prática de exercício físico durante a idade adulta, com principal foco nos estágios do adulto jovem e da meia idade.
O desporto com finalidade de rendimento físico
Tal como visto na publicação anterior, as capacidades físicas humanas atingem o seu pico entre os 25 e os 30 anos de forma geral, ou seja, perspetivando a atividade física numa ótica de rendimento, é durante a fase de adulto jovem que os atletas atingem o seu pico de performance e condição física.

De realçar também que nem sempre o desporto de alta competição é sinónimo de saúde, já que as lesões e os traumatismos podem acarretar consequências físicas negativas e doenças ao longo da vida ao nível estrutural e fisiológico do corpo humano, resultado de anos e anos de prática desportiva em que o corpo humano vai ser sujeito a uma carga e stress excessivos para atingir o rendimento máximo desportivo. Contudo estes casos constituem um pequeno nicho da população mundial que testam os limites do desempenho do corpo humano, e claro que como tudo em excesso também faz mal, o rendimento desportivo não foge à regra, porém é sempre mais vantajoso do que adotar comportamentos sedentários nestas idades que acarretam consequências ainda mais gravosas para a vida humana a curto e longo prazo. O desporto com finalidade de rendimento na meia idade já não se verifica, ou pelo menos são escassos os casos de atletas de alto rendimento que conseguem continuar a competir ao mais alto nível neste patamar etário, já que as competências corporais já entraram no seu gradual declínio o que dificulta a forma física exigida pelo desporto de alta competição.
O desporto com finalidade de saúde e lazer
Saúde e lazer são dois termos que caminham juntos no que toca à prática desportiva, já que uma implica a outra e vice-versa, já que o desporto é de tal modo multifacetado que provoca uma série de reações no corpo e no contexto social que combinam sempre estes dois termos. Os benefícios que este proporciona ao ser humano, quer no foro físico ou no foro mental são imensuráveis, pelo que a manutenção de um estilo de vida ativo e saudável nos vários aspetos do quotidiano são imprescindíveis para uma maior vitalidade e vai acrescendo a sua importância com o avançar da idade.

Importante mencionar que o número de pessoas a praticar desporto amador atualmente também é considerável, ligado à parte lúdica do desporto, são aquelas pessoas que praticam pelo gosto da prática desportiva e também pela competição amadora, que claro, difere em vários aspetos da competição profissional e também pelo modo de vida dos seus praticantes, que têm os seus empregos e outras atividades que nada se assemelha ao modo de vida dos atletas profissionais. Neste campo, o desporto torna-se um crucial vetor de interações socias de pessoas que se cruzam pela prática desportiva e desenvolvem laços, combatendo o isolamento social, ligando pessoas. Esta prática é transversal à fase de adulto jovem e à meia idade, já que existem provas amadoras para estes escalões etários, contudo, conforme se avança na idade são cada vez menos aqueles que continuam a competir ao nível amador.
- Alterações físicas provocadas pelo envelhecimento e os benefícios do desporto

Nestas idades, o exercício físico encara-se como um fator retardante das características e problemas que vêm com o envelhecimento, como o decréscimo de massa muscular, da capacidade de endurance, da força, da potência, da velocidade de contração das fibras musculares, da função mitocondrial e da sua capacidade oxidativa. Também ocorrem problemas ao nível cardiovascular, com o aumento da pressão arterial, a diminuição da capacidade cardíaca máxima e submáxima bem como da frequência cardíaca máxima e da capacidade de contratilidade do coração. Ocorrem problemas ainda no sistema nervoso, imunitário, no metabolismo glicolítico, um aumento generalizado da gordura corporal e visceral, uma diminuição da massa óssea e complicações no campo cutâneo.
O desporto, embora não seja o remédio milagroso para todos os casos consegue manipular estes efeitos, como por exemplo, durante o envelhecimento ocorre uma inevitável perda de massa magra, em que é possível combater esta perda com programas de treino resistido, que se mostram os mais adequados para prevenir esta perda, que devem ser o mais personalizados aos indivíduos para a prevenção de doenças e traumatismos, facilitando as tarefas do dia a dia das pessoas, criando bem-estar e qualidade de vida, a nível biológico do corpo humano.

Segundo a literatura, estudos indicam que o exercício físico ajuda na prevenção e tratamento de doenças crónicas, como a obesidade e hipertensão, diminuindo os fatores de risco que levam ao aparecimento destas doenças, como uma otimização do sistema cardiovascular e a utilização de substratos presentes na gordura, como os lípidos, para a prática de exercício físico aeróbio, diminuindo o risco e os efeitos da obesidade. O exercício também se mostra como um método de prevenção e tratamento eficaz nos casos de diabetes tipo 2 em que um estudo que utilizou adultos jovens e na meia idade com excesso de peso foram sujeitos a um estilo de vida intenso de uma dieta controlada e exercício físico aeróbio e o resultado foi na redução em 58% do risco de incidência da diabetes tipo 2 em três anos, em que outro estudo realizado em pessoas com diabetes tipo 2 em que a perda de gordura visceral provocada pelo exercício físico aeróbio ou resistido aumentam a capacidade de absorção de insulina pelas células, diminuindo os efeitos da doença.
- Alterações psicossociais provocadas pelo envelhecimento e os benefícios de desporto
Durante a vida adulta, o ser humano está sempre sujeito a uma quantidade de stress provocada pelos desafios por esta ocasionados. Este stress acumulado e a falta de interações socias de qualidade são os fatores peregrinos no desenvolvimento de doenças do foro psicológico, como a depressão, a mais gravosa que se trata da causa de morte mais comum das mortes mais prematuras e todos os riscos secundários que dela sucedem segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Os estudos demonstram-nos que o exercício físico assume a dianteira na prevenção e no tratamento da depressão nos jovens adultos, estudos realizados com adultos com depressão em que foram aplicados programas de treino resistido e treino de resistência aeróbio mostram que existe uma percentagem de 33 a 88% de melhoria da doença e que o exercício aeróbio trata-se do "medicamento" mais eficaz contra a depressão com as maiores taxas de sucesso no tratamento, ainda mais que os antidepressivos, e, também não existe diferença em utilizar estes simultaneamente, não existindo um maior número de ganhos no combate à depressão.

Durante a meia idade, as pessoas, como já vimos na publicação anterior deparam-se com a crise da meia idade que cria dilemas mentais acerca do envelhecimento e da vida até aí vivida, o que muitas vezes leva à ocorrência de doenças mentais que podem ter consequências graves se não tratadas. Para evitar o aparecimento destas, o desporto assume um papel imprescindível quer na diminuição do estado deprimido, como vimos no parágrafo acima, mas também pelo fator social do desporto que permite a socialização e a integração das pessoas na sociedade de que muitas vezes se sentem excluídas pelo avançar da idade, em que o desporto lhes oferece um papel social significativo que lhes devolve a vitalidade.
E ninguém melhor para nos relatar dos efeitos do exercício no desenvolvimento cerebral e na promoção de uma vida mais saudável que a neurocientista Wendy Suzuki na sua TedTalk em novembro de 2017 em New Orleans no Luisiana nos Estados Unidos da América, onde a cientista explica os efeitos que o exercício físico causou na própria e os benefícios que este trás para o cérebro humano resultado da sua pesquisa após a sua experiência com o exercício. Nesta TedTalk a interlocutora refere benefícios, como por exemplo um aumento da produção de neurotransmissores em apenas um treino, como a dopamina, que tem efeitos imediatos no humor da pessoa e que a longo prazo contribuem para a génese das partes do cérebro que tem uma maior tendência degenerativa do cérebro que são o córtex pré-frontal e o hipocampo, entre outros exemplos apresentados por Wendy. No vídeo também revela que a maior parte da população não tem o prazer pela prática física regular procurando sempre o mínimo do tempo que necessita para obter os efeitos pretendidos com o mínimo de esforço possível, para isso, no seu laboratório a neurocientista ocupa-se de estudar os programas de treino personalizados ideais de acordo com a condição física, com a idade e com o genótipo de modo a maximizar os efeitos do exercício no cérebro das pessoas. Para uma melhor análise da intervenção da neurocientista, convidamo-lo a assistir aos breves 12 min de TedTalk que se encontram abaixo!
Em suma, nas idades mais jovens da vida adulta, o exercício físico, em campo de saúde e lazer mostra-se como um importante vetor social e biológico, sendo dotado de capacidades que não assistem a qualquer outro método de tratamento e prevenção, sendo transversal a quase todas as doenças quer no âmbito da fisiologia humana, quer no campo psicossocial da natureza humana, sendo o pilar de um estilo de vida saudável e sinónimo de longevidade, retardando os efeitos do envelhecimento.

Referências bibliográficas:
- Antoinette Fiatarone Singh, M. (2004). Exercise and aging (pp. 201–221) [Review of Exercise and aging].
Suzuki, W. (2017). The brain-changing benefits of exercise. Ted.com; TED Talks. https://www.ted.com/talks/wendy_suzuki_the_brain_changing_benefits_of_exercise?language=en